A primeira fase da Embrafilme vai de sua criação a 1974. Foi nesse período que aconteceu o I Congresso da Indústria Cinematográfica Brasileira (CICB), evento patrocinado pelo INC. Lá foram discutidos assuntos de relevância para o cinema nacional em geral. Esse Congresso serviria de plataforma política para aqueles que deteriam o poder na Empresa numa próxima etapa. Nessa fase algumas das reivindicações da classe cinematográfica já eram atendidas, como a obrigatoriedade de exibição, a reserva de mercado e a destinação de recursos financeiros públicos para a produção.
Ao contrário do INC, o projeto da Embrafilme foi estruturado e implantado sem a participação dos envolvidos efetivamente com cinema – produtores, distribuidores e exibidores. Aos poucos a empresa foi absorvendo as funções do Instituto, até absorvê-lo totalmente em 1975, por meio da Lei nº. 6.281 – mudança que caracterizou o início da segunda fase da Embrafilme e um período de considerável desenvolvimento da atividade cinematográfica.
O texto da lei que extingue o INC previa a criação de um órgão de fiscalização da atividade, de forma que, em 1976 foi criado o Conselho Nacional de Cinema (Concine), “órgão de orientação normativa e fiscalização das atividades relativas a cinema”, como diz o Decreto nº. 77.299/76. Assim, a Embrafilme ficava responsável pela execução da política cinematográfica nacional – incluindo atividades culturais, industriais e comerciais –, enquanto o Concine tratava de normatizar e fiscalizar essa política.
A mesma lei que criou a Embrafilme e previu a criação do Concine mencionava uma contribuição para o desenvolvimento da indústria cinematográfica nacional, que deveria ser paga pelos distribuidores ou produtores de obras cinematográficas nacionais e importadas exibidas no País. O Decreto-lei nº. 1.900, de dezembro de 1981 regulamentou a contribuição, seis anos depois de sua criação.
A Lei nº. 6.281/75 foi duramente criticada pelos distribuidores e exibidores, visto que criava empecilhos à economia de mercado. Durante a ação do Concine, a reserva de mercado para filmes nacionais cresceu sensivelmente, de 84 dias por ano, no mínimo, em 1974, chegou ao ápice de 140 dias por ano na década de 80. Enquanto a média de longas metragens produzidos no País entre 1940 e 1970 foi de 40 filmes/ano, entre 1970 e 1990 chegou a 80 filmes/ano.
Nesse contexto, os exibidores deveriam arcar com os riscos de exibir um filme nacional devido ao elevado número de dias que eram obrigados a reservar para a produção brasileira. Vale a pena lembrar que as salas de exibição nessa época não eram como os cinemas de hoje, havia apenas uma sala e o filme ficava em cartaz durante uma semana ininterrupta. Por isso exibidores começaram a se associar às produções de cinema classificadas como “pornochanchada”, pois esse gênero costumava ter garantidas vendas na bilheteria, significava lucro certo para o exibidor, que agora ganhava também como produtor. A pornochanchada foi um gênero de filme nacional que tomou forma em obras de diretores paulistas do final da década de 60. Mas o nome acabou servindo para classificar as obras de teor humorístico e erótico produzidas de 1970 a 1975, que não faziam parte do Cinema Novo ou do Cinema Marginal (1970 a 1987).
A segunda fase da Embrafilme é o assunto do próximo texto.
Você concorda com a reserva de mercado para exibição de filmes nacionais nas salas de cinema praticada até hoje? Deixe sua resposta nos comentários abaixo.
Receba dicas semanais de como transformar suas ideias em produtos audiovisuais e como financia-los...Grátis!